sábado, 22 de maio de 2010

JESUS CUROU NO SÁBADO



Algumas das múltiplas facções em que se dividiu a reforma protestante promovida por Lutero encasquetaram que devem observar a orientação bíblica, guardando o descanso no sábado. O sabatista pretende reviver uma orientação arcaica, superada, que não condiz com a atualidade. Sua intransigência é um atestado dos problemas que o fanatismo ocasiona ao observar literalmente textos religiosos que dizem respeito a outros tempos, outros costumes, sem sabor de perenidade. Foi registrado por Moisés, na Tábua da lei, terceiro mandamento: “Lembra-te do dia de sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás todo a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a Terra, o mar e tudo o que neles há, e o sétimo dia descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou.” Segundo a alegoria bíblica, Deus trabalhou duro e edificou o Universo, incluindo a Terra e os seres vivos, em seis dias. A Ciência nos diz que gastou um “pouquinho” mais: perto de cinco trilhões e quinhentos bilhões . . . Então, Moisés impôs a orientação para o sábado, praticamente instituindo a primeira legislação trabalhista, atendendo a justa necessidade de descanso para o servo, o animal, o escravo . . . Ocorre que, como fazia habitualmente, dizia tratar-se de ordem divina. As penalidades eram absurdas. Em Números, um dos livros sagrados do judaísmo, no capítulo 15, um homem foi surpreendido a amontoar lenha no sábado. Imediatamente foi levado à presença de Moisés. Registram os versículos 35 e 36: Então disse o Senhor a Moisés: “Tal homem será morto. Toda a congregação o apedrejará fora do acampamento. Portanto, toda a congregação o levou para fora do acampamento, e o apedrejou até que morreu, como o Senhor ordenara a Moisés.” Pobre Jeová! Tinha costas largas . . . Mas para Jesus, estas disciplinas não passavam de tolices sustentadas pelo fanatismo. Em pleno sábado visitava, curava, ajudava, orientava, viajava. Não tardaram os problemas com o judaísmo dominante. Certa vez, Jesus passava pelas searas com seus discípulos, quando estes, famintos, colhiam espigas que debulhavam e comiam. Os fariseus se escandalizaram, Era sábado! Aqueles galileus atrevidos estavam exercitando uma atividade proibida no dia consagrado ao Senhor. Pacientemente, Jesus explicou: “Nunca lestes o que fez David quando teve fome, ele e os que com ele estavam? Como entrou na casa de Deus, tomou e comeu os pães da proposição, que somente aos sacerdotes era lícito comer, e os deu também aos que estavam com ele?" Na liturgia judaica, pães da proposição eram sagrados ao Senhor, de uso reservado aos sacerdotes. Numa situação especial, David e seus companheiros alimentaram-se deles. E Jesus conclui: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado.”
No sábado seguinte Jesus foi à sinagoga, onde encontrou um homem com a mão ressequida (atrofia muscular). Os fariseus, vendo que Jesus se dispunha a ajudá-lo, perguntaram: “É lícito curar no sábado?” E Jesus respondeu: “Qual dentre vós será o homem que tendo uma ovelha e, num sábado esta cair numa cova, deixará de esforçar-se por tira-la dali? Ora, um homem vale muito mais do que uma ovelha. Logo, é lícito fazer o Bem no sábado.” Calaram-se os fariseus e Jesus curou o homem partindo em seguida com seus discípulos. Comenta o evangelista Marcos: “Tendo saído, os fariseus tomaram logo conselho com os herodianos contra ele, procurando ver como o matariam.”
A controvérsia do sábado lembra as convenções humanas. São úteis mas, se levada a extremos de intransigência, deixam de servir o homem e passam a escraviza-lo.
Exemplo: Um rapaz budista concordou em casar-se em igreja católica, atendendo às convenções religiosas da noiva. O sacerdote exigiu que os noivos participassem de um curso preparatório e se submetessem a determinados sacramentos. Trata-se uma convenção aceitável para os católicos. Mas para o adepto de outra religião deveria estar contida nos limites da opção, em saudável exercício de fraternidade. Se levada ao pé da letra, com intransigência nada fraterna, gera um impasse. O noivo, então, procurou inúmeros sacerdotes, até encontrar um mais esclarecido que o dispensou daquelas preliminares.
Então, devemos encarar as convenções com espírito aberto, sem condicionamento. Caso contrário, em determinadas circunstâncias, perderemos a iniciativa e seremos dominados por elas, esquecendo que foram feitas para servir o Homem e não para oprimi-lo.

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